Relatório financeiro da Kodak no segundo trimestre de 2025 levanta dúvidas sobre futuro da empresa

Relatório financeiro da Kodak no segundo trimestre de 2025 levanta dúvidas sobre futuro da empresa

Resultados negativos e queda de receita

A Kodak divulgou os resultados financeiros referentes ao segundo trimestre de 2025 e acendeu um alerta sobre a continuidade de suas operações. A empresa encerrou o período com saldo em caixa de US$ 155 milhões, uma queda de US$ 46 milhões em relação a dezembro de 2024. A receita também caiu US$ 4 milhões, e o prejuízo líquido conforme os padrões contábeis GAAP foi de US$ 26 milhões no trimestre.

De acordo com a própria Kodak, os principais fatores que contribuíram para esse desempenho negativo foram os gastos com capital, o aumento dos custos operacionais, a menor rentabilidade das operações e alterações no capital de giro.

Dúvidas sobre a continuidade e plano de pensão em transição

Esses dados preocupantes surgem meses após a empresa anunciar a intenção de encerrar seu plano de aposentadoria, o Retirement Income Plan, com o objetivo de usar os recursos da reversão para amortizar dívidas. A Kodak afirma que esse processo está “progredindo conforme o planejado”, mas ressalta que não possui controle total sobre os trâmites, o que levanta incertezas sobre sua capacidade de continuar operando.

Não está claro se a empresa estabeleceu um novo plano de aposentadoria. A expectativa, segundo o relatório, é que os aposentados passem a receber anuidades e que os funcionários ativos tenham a opção de escolher entre pagamento único ou anuidade ao se aposentarem.

Dívidas em vencimento e queda nas ações

Fundada há mais de 130 anos, a Eastman Kodak Co. alertou para a “incerteza substancial” quanto à sua permanência no mercado, destacando que pode ter dificuldades para honrar as obrigações financeiras que vencem nos próximos meses.

As ações da empresa despencaram mais de 13% nas negociações de terça-feira pela manhã. Em comunicado enviado aos órgãos reguladores, a Kodak afirmou que tem dívidas com vencimento em até 12 meses e não possui financiamentos assegurados ou liquidez disponível para quitá-las, caso essas obrigações venham a ser exigidas em suas condições atuais.

Em 30 de junho, a empresa possuía US$ 155 milhões em caixa, sendo US$ 70 milhões localizados nos Estados Unidos.

Legado histórico e desafios na era digital

A Kodak, fundada por George Eastman em 1880, foi responsável por popularizar a fotografia no início do século XX. Ficou famosa mundialmente pelas câmeras Brownie e Instamatic, além das icônicas caixas de filme amarelas e vermelhas.

Apesar de ter lançado a primeira câmera digital em 1975, a empresa não conseguiu acompanhar a revolução digital. A concorrência crescente — especialmente de fabricantes japoneses — e a lenta adaptação ao novo mercado levaram a Kodak a entrar com pedido de falência em 2012, com uma dívida acumulada de US$ 6,75 bilhões.

Após vender diversas unidades de negócio e patentes, a Kodak encerrou sua divisão de câmeras e passou a focar em impressão comercial e embalagens. A empresa recebeu aprovação para sair da supervisão judicial um ano após o pedido de falência.

Tentativa de reinvenção no setor farmacêutico

Atualmente, a Kodak está próxima de concluir uma planta de fabricação de produtos farmacêuticos regulados. A companhia já produz ingredientes iniciais não regulados para medicamentos e pretende iniciar a produção na nova instalação ainda este ano.

Essa estratégia de diversificação começou a ganhar destaque em 2020, quando o então presidente Donald Trump anunciou um empréstimo de US$ 765 milhões à Kodak, com o objetivo de ajudar na produção local de medicamentos e reduzir a dependência dos Estados Unidos de fabricantes estrangeiros.

O anúncio gerou uma disparada nas ações da empresa que, por pouco, não travou a Bolsa de Valores de Nova York. No entanto, desde então, o desempenho no mercado tem sido instável.

Um império fotográfico que virou novela corporativa

A história da Kodak é marcada por inovações e glórias, como a introdução das primeiras câmeras portáteis em 1888 e o domínio na produção de filmes fotográficos e cinematográficos nos Estados Unidos. A empresa venceu nove prêmios Oscar técnicos, mais do que qualquer outra fora dos grandes estúdios.

O auge veio na década de 1970, sendo inclusive celebrada na música “Kodachrome” de Paul Simon, que liderou as paradas em 1973. No entanto, o atraso em adaptar-se às mudanças tecnológicas levou a empresa a perder protagonismo e a enfrentar sérios problemas financeiros.

Hoje, o nome Kodak carrega um misto de nostalgia e incerteza — e seu futuro depende da capacidade de executar novas estratégias com sucesso, diante de um mercado cada vez mais competitivo e exigente.